Autor: Patrick Hoeveler
Até hoje, o F-14, a grande atração do filme “Top Gun”, é considerado o mais eficiente jato de interceptação já lançado de um porta-aviões.
Animosidade
entre militares de alta patente? Temos que peças de reposição possam acabar no
Irã? Seja qual o motivo, o fato é que na Base Aérea Davis-Monthan, no Arizona,
nos EUA, a quase totalidade da frota de Tomcat da Marinha dos EUA foi reduzida
a pequenos retalhos de metal. Em meados de setembro ainda restavam 13
exemplares no inventário das oficinas do AMARC. Em março de 2007, o FBI
confiscou alguns F-14 na Califórnia, inclusive os expostos em museus. Um fim
inglório para o então mais moderno dos aviões de combate da Marinha, cuja
desativação é lamentada por boa parte de seus oficiais.
Na visita
de AVIÃO REVUE ao USS Eisenhower, no ano passado, Roy Kelly, que mais tarde
seria Comandante da 7ª Ala Embarcada, afirmou: “Sinto falta do Grummam F-14
Tomcat. O Boeing F/A-18E/F Super Hornet é bem diferente”. O curioso é que o Grummam F-14 Tomcat foi lançado para preencher uma lacuna. No
início dos anos 1960 a fórmula mágica na gestão do Ministro da Defesa, Robert
McNamara, era fazer economia por meio de programas combinados entre as
diferentes armas dos EUA. Assim, a Força Aérea e a Marinha dos Estados Unidos
tiveram que unir suas especificações em torno de um novo avião de combate ou de
interceptação para a defesa dos mares.
O contrato
para o desenvolvimento da aeronave em questão, o futuro F-111, foi concedido à
General Dynamics, em dezembro de 1962. A Grummam também participou do projeto na
qualidade de subcontratada principal.
Todos os
produtos desse fabricante de aviões navais, que seria responsável pelo F-111B,
versão embarcada do F-111A eram tradicionalmente chamados de Cat (gatos, em
português), como Wildcat, Hellcat, Tigercat, Bearcat etc. o ensaio com os
protótipos mostrou que o projeto não era adequado para um modelo destinado às
operações em porta-aviões, e o programa foi cancelado em 1968.
Agindo com
prudência desde janeiro de 1966, a marinha já havia solicitado à Grummam o
estudo de um projeto alternativo para um caça. Em outubro de 1967, a empresa
apresentou seu Projeto 303 ao Almirantado. Ele já revelava muita semelhança com
o que seria mais tarde o Tomcat e era equipado com o sistema de controle de
fogo Hughes-AWG-9 e os motores TF30 do F111B.
Finalmente,
em julho de 1968, a Marinha emitiu as Especificações-VFX, contrato vencido pela
Grummam, em 14 de janeiro de 1969, superando a McDonnell Douglas. O acordo
abrangeu a fabricação de seis aeronaves de pré-série e, para começar, 463
modelos de série.
Pouco
depois, a Marinha dos Estados Unidos exigiu a substituição da deriva vertical
simples do projeto original por uma deriva dupla, bem como a inclusão das duas
aletas estabilizadoras articuladas na parte traseira da fuselagem.
Em 21 de
dezembro de 1970, Robert Smythe, piloto-chefe de provas da Grummam, e o piloto
de ensaios do projeto, William Miller – no assento de trás -, decolaram com o
primeiro protótipo da pista de Calverton Field, Nova York.
O primeiro
voo só teve 10 minutos de duração. O segundo voo, em 30 de dezembro de 1970,
deveria ser mais longo, mas já após 25 minutos ocorreu uma pane no
sistema hidráulico. Desta vez Miller estava no comando e tentou levar o F-14
Tomcat de volta ao aeroporto. Pouco antes da pita, ele finalmente perdeu o
controle da aeronave obrigando a ejeção dos dois tripulantes.
Após o
primeiro voo do segundo protótipo, em 24 de maio de 1971 (com Smythe e Miller a
bordo, mais uma vez), o programa de ensaios de vôo descorreu sem problemas, com
a realização frequente de voos, superando as 12 horas diárias.
Salvo
algumas modificações necessárias, os testes forma bem-sucedidos. Os motores
Pratt&Whitney TF30 representaram uma dor de cabeça para os engenheiros que,
pouco mais tarde, contagiaram também os pilotos. Ângulos de ataque pronunciados
tinham a tendência de causar uma separação do fluxo de ar no compressor e
também sua confiabilidade deixava a desejar.
Nesses
casos, a correção veio na forma do F-14B equipado com motores ATE (Advanced
Technology Engine ou Motor de Tecnologia Avançada).
Paralelamente cresciam os
custos do programa como um todo, fazendo com que os políticos considerassem uma
variante simplificada do F-14 ou até um modelo F-15N. Apesar disso, a unidade
de treinamento VF-124 em Miramar, na Califórnia, recebeu seu primeiro “Gato” em
31 de dezembro de 1972.
Em setembro
de 1974, decorridos menos de quatro anos do primeiro voo do F-14, os Tomcats
das esquadrilhas VF-1 e VF-2 partiram para sua primeira viagem a bordo do USS
Enterprise.
Ao longo
dos anos seguintes, quase todas as esquadrilhas passaram dos Phantom para o
avião das asas de enflechamento variável da Grummam. A força naval passou a
contar com novos recursos bélicos pois a combinação do sistema AWG-9 com os
mísseis AIM-59 ‘Phoenix’ permitiram abater um avião inimigo a uma distância de
aproximadamente 100 km. O sistema permitia o rastreamento de até 24 alvos e o
enfrentamento simultâneo de até 6 deles.
Essa capacidade foi posta à prova
pelas tripulações de dois F-14A (número de série 160390 e 160403) da
esquadrilha VF-41, em 19 de agosto de 1981, ao abaterem dois Sukoi Su-22
líbios, sobre o Golfo de Sydra. Posteriormente, dois miG-25 igualmente da Líbia
também não tiveram qualquer chance no combate com dois Tomcat da VF-32, em 4 de
janeiro de 1989.
Durante a
operação “Tempestade no Deserto”, um F-14 da VF-1 abateu um helicóptero Mil
Mi-8 iraquiano, mas, dias depois, uma aeronave do VF-103 foi vítima de um
foguete AS-2. Seria a única baixa por intervenção inimiga registrada no
conflito.
O quanto
podem ser perigosas as operações rotineiras a bordo de porta-aviões foi
demonstrado pela perda de 140 Tomcat devido a acidentes. Um dia especialmente
negro foi vivido pelo USS Eisenhower, em 17 de março de 1983: naquele dia se
acidentaram três aviões, dois envolvidos em uma colisão aérea e um devido a uma
pane hidráulica.
Apesar
disso, os F-14 Tomcat foram muito queridos pelas tripulações. Eles só tiveram o
azar que, desde o início, seus substitutos F/A-18E/F Super Hornet foram quase
isentos de problemas e de entrega mais rápida, conforme contrato estabelecido
previamente. Em 22 de setembro de 2006, na Base Aeronaval Oceana, na Virginia,
foi desativado o último F-14 da Marinha dos EUA.
Para muitos, foi cedo demais.
O F-14 chegou a participar de algumas obras de ficção, como:
Filme Top Gun (1986), interpretado por Tom Cruise
Filme Final Countdown (1980)
Desenho Animado G. I. Joe
Karina Bernardino
Fonte: Avião Revue